Exercícios Vidas Secas - Literatura


Lista de Exercícios Vidas secas
5 questões de múltipla escolha e 5 questões discursivas.




VIDAS SECAS

TESTES

1. (FUVEST 2001) Um escritor classificou Vidas secas como “romance desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e seqüências parcialmente truncadas. Essas características da composição do livro

a) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do Regionalismo nordestino.
b) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo.
c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja.
d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides da Cunha, em Os sertões.
e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm do mundo.

2. (FUVEST 2002) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e A hora da estrela:

I. Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam.
II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social.
III. A personagem sinha Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

3. (FUVEST 2008) Considere as seguintes afirmações sobre três obras literárias:

Na primeira obra, o catolicismo apresenta-se como religião absoluta, cujos princípios sólidos mais sobressaem ao serem contrapostos às desordens humanas. Na segunda obra, diferentemente, ele aparece como religião relativamente maleável, cujos preceitos as personagens acabam por adaptar a seus desejos e conveniências, sem maiores problemas de consciência subseqüentes. Já na terceira obra, o catolicismo comparece sobretudo como parte de um resgate mais amplo de valores familiares e tradicionais, empreendido pelo protagonista.



Essas afirmações referem-se, respectivamente, às seguintes obras:

a) Dom Casmurro, Memórias de um sargento de milícias e Auto da barca do inferno.
b) Memórias de um sargento de milícias, “A hora e vez de Augusto Matraga” e Vidas secas.
c) “A hora e vez de Augusto Matraga”, A cidade e as serras e Memórias de um sargento de milícias.
d) Auto da barca do inferno, Dom Casmurro e A cidade e as serras.
e) A cidade e as serras, Vidas secas e Auto da barca do inferno.

4. (FUVEST 2008) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e Iracema:

I. Em ambos os livros, a parte final remete o leitor ao início da narrativa: em Vidas secas, essa recondução marca o retorno de um fenômeno cíclico; em Iracema, a remissão ao início confirma que a história fora contada em retrospectiva, reportando-se a uma época anterior à da abertura da narrativa.
II. A necessidade de migrar é tema de que Vidas secas trata abertamente. O mesmo tema, entretanto, já era sugerido no capítulo final de Iracema, quando, referindo-se à condição de migrante de Moacir, “o primeiro cearense”, o narrador pergunta: “Havia aí a predestinação de uma raça?”
III. As duas narrativas elaboram suas tramas ficcionais a partir de indivíduos reais, cuja existência histórica, e não meramente ficcional, é documentada: é o caso de Martim e Moacir, em Iracema, e de Fabiano e sinha Vitória, em Vidas secas.

Está correto o que se afirma em

a) I, somente.
b) II, somente.
c) I e II, somente.
d) II e III, somente.
e) I, II e III.
5. (FUVEST 2009) Quando nos apresentam os homens vistos pelos olhos dos animais, as narrativas em que aparecem o burrinho pedrês, do conto homônimo (Sagarana), os bois de “Conversa de bois” (Sagarana) e a cachorra Baleia (Vidas secas) produzem um efeito de

a) indignação, uma vez que cada um desses animais é morto por algozes humanos.
b) infantilização, uma vez que esses animais pensantes são exclusivos da literatura infantil.
c) maravilhamento, na medida em que os respectivos narradores servem-se de sortilégios e de magia para penetrar na mente desses animais.
d) estranhamento, pois nos fazem enxergar de um ponto de vista inusitado o que antes parecia natural e familiar.
e) inverossimilhança, pois não conseguem dar credibilidade a esses animais dotados de interioridade.


Gabarito
1)E 2)B 3)D 4)C 5)D
LITERATURA

VIDAS SECAS


QUESTÕES DISCURSIVAS

1. (UNICAMP 1998) Em Vidas Secas, após ter vencido as dificuldades, postas no início da narrativa, Fabiano afirma: “Fabiano, você é um homem...”. Corrige-se logo depois: “Você é um bicho, Fabiano”. Em seguida, encontrando-se com a cadelinha, diz: “Você é um bicho, Baleia”. Ao chamar a si mesmo e a Baleia de “bicho”, Fabiano estabelece uma identificação com ela. Na leitura de Vidas Secas, podem-se perceber vários motivos para essa identificação. Cite dois
desses motivos.

Fabiano chega a afirmar que se sente resistente como um bicho, por sobreviver à seca, do
mesmo modo que Baleia; ele também tem enorme dificuldade para se expressar, fazendo-o por meio de gestos e de sons guturais como “Hum!”, “An!”, o que poderia ser comparados aos latidosde Baleia. Fabiano também tem dificuldades para elaborar idéias mais complexas; quase sempre fica confuso, o que pode se relacionar à irracionalidade de Baleia.

2. (UNICAMP 2008) Leia o seguinte trecho do capítulo “Contas”, de Vidas Secas.

Tinha a obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia do seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. (...) Era a sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar
mandacaru, ensebar látegos – aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.
(Graciliano Ramos, Vidas Secas. 103ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.97.)

a) Que visão Fabiano tem de sua própria condição? Justifique.

Trata-se de uma visão extremamente alienada e conformista (“Conformava-se, não pretendia mais nada”, diz ele), justificada, inclusive, por uma lógica determinista. Fabiano aceita a exploração e a condição social miserável em que vive como se fossem naturais, produtos de uma sina (“Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? [...] Era a sina.”), ou mesmo de uma herança genética, pois, segundo ele, o “pai vivera assim, o avô também [...] aquilo estava no sangue”.

b) Explique a referência que ele faz aos “homens ricos” com base no enredo do livro.

Os “homens ricos” mencionados no trecho são homens de posse, senhores de terras, exploradores como o proprietário das terras em que Fabiano se instala com sua família. Como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, Fabiano precisava recorrer à feira para a compra de mantimentos, a fim de alimentar a família. Para isso, negociava os poucos bezerros e cabritos que possuía com o
proprietário das terras, que os comprava a preços baixíssimos. O valor que conseguia com os animais não era suficiente para se manter e precisava recorrer ao patrão, que lhe cobrava juros altíssimos pelos empréstimos. As contas do patrão nunca batiam com as de Sinhá Vitória, em virtude dos juros exorbitantes cobrados por tais empréstimos. Quando Fabiano reclamava, o patrão, irritado, mandava-o procurar outra fazenda. Fabiano, então,
sem alternativa, calava-se e se submetia aos desmandos e à exploração do patrão.

3. (FUVEST 2008) Em seu poema chamado “Graciliano Ramos:”, João Cabral de Melo Neto coloca-se no lugar desse escritor e desenvolve quatro afirmações:

I. “Falo somente com o que falo:” (= com os meios que uso para expressar-me, com o estilo que emprego).
II. “Falo somente do que falo:” (= dos assuntos de que trato, dos aspectos que privilegio).
III. “Falo somente por quem falo:” (= em nome de quem falo, a quem dou voz em minha obra).
IV. “Falo somente para quem falo:” (= a quem me dirijo ao escrever, de que modo trato o leitor).

Imitando o procedimento de João Cabral, coloque-se no lugar de Graciliano Ramos e desenvolva cada uma dessas quatro afirmações, tendo como referência o romance Vidas secas.

I. O estilo adotado é seco, despojado, descarnado (no dizer de Alfredo Bosi). Esses aspectos são confirmados pela valorização do período e do parágrafo curtos, pelo predomínio das orações coordenadas e justapostas; pela economia dos elementos
descritivos (que só estão presentes quando imprescindíveis para a situação que nomeiam). A linguagem, reduzida ao mínimo, mimetiza a miséria do meio e dos próprios personagens.
II. Os assuntos de Vidas Secas são a brutalização do homem, resultante dos elementos geográficos (como a seca), mas, sobretudo de uma ordem sócio-político-econômica que divide os homens entre os donos da terra e do poder (latifundiários e governo) e aqueles que só têm a força de trabalho para oferecer (retirantes) e a incomunicabilidade resultante dessa realidade.
III. O narrador do romance Vidas Secas fala em nome desses oprimidos que não têm voz; daí a presença de um narrador em terceira pessoa onisciente, necessário para exteriorizar os anseios, os sonhos e as necessidades desses desvalidos.
IV. O narrador se dirige ao leitor, que, como ele, está distanciado do universo dos retirantes e pode compreender toda a dinâmica (em seus aspectos sociais, políticos e econômicos) dessa trágica realidade. Essa postura do narrador se evidencia claramente no capítulo final do romance, quando a família vislumbra um futuro melhor na cidade grande e o narrador, irônico e visando à percepção do leitor, afirma: "e o sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes como Fabiano e sinha Vitória".

4. (FUVEST 2009) Leia as afirmações abaixo e responda ao que se pede.

I. A dureza do clima, que se manifesta principalmente nas grandes secas periódicas, explica todas as aflições de Fabiano, ao longo da narrativa de Vidas secas, de Graciliano Ramos.

a) Você concorda com essa afirmação (I)? Justifique sucintamente sua resposta.

Não é possível concordar com a afirmação, uma vez que todas as aflições de Fabiano não se explicam apenas pela dureza do clima: ele é oprimido também por fatores do meio social em que vive; basta lembrar os episódios do soldado amarelo e de suas relações com o patrão.

II. Apesar de quase atrofiadas na sua rusticidade, as personagens de Vidas secas, de Graciliano Ramos, conservam um filete de investigação da interioridade: cada uma delas se perscruta, reflete, tenta compreender a si e ao mundo, ajustando-o à sua visão.

b) Você considera essa afirmação (II) correta? Justifique brevemente sua resposta.

Sim, pois, apesar de privadas de linguagem, as personagens têm sua interioridade conhecida graças ao recurso do discurso indireto livre, em que, no meio da fala do narrador, irrompe o próprio pensamento da personagem.


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