Questões Rosa do povo

1. (FUVEST) Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.

(...)

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

(...)

Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.

No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de A rosa do povo,

a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo capitalista.
b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade padrão da linguagem.
c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não podem nem devem ser interpretados.
d) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem.
e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma, são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos.


2. (UNICAMP) O poema abaixo pertence ao livro A rosa do povo (1945):

Cidade prevista

Irmãos, cantai esse mundo
que não verei, mas virá
um dia, dentro em mil anos,
talvez mais... não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras,
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro,
um jeito só de viver,
mas nesse jeito a variedade,
a multiplicidade toda
que há dentro de cada um.
Uma cidade sem portas,
de casas sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Este país não é meu
nem vosso ainda, poetas.
Mas ele será um dia
o país de todo homem.
(Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo, em Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p.158-159.)

A) A quem se dirige o eu lírico e com que finalidade?

B) A que “cidade” se refere o título do poema e como ela é representada?

C) Que características centrais de A Rosa do Povo se encontram nesse poema?


3. (UFBA) FRAGILIDADE

Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial – inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam aves, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de Andrade: obra completa: poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 154-155.

Na seleção dos signos verbais, o sujeito poético cria metáforas estabelecendo analogias entre elementos distintos. Na linguagem de Drummond, “isso é aquilo”.

Identifique e transcreva uma das analogias referidas, explicando-a com base no contexto do poema.

Gabarito

1)D
2) A) O eu lírico dirige-se a seus "irmãos", ou seja, a outros poetas, como indicado no antepenúltimo verso, com a finalidade de fazer-lhes um apelo: o de cantar (defender, propagar, difundir, exaltar etc.) a esperança de um mundo bom e justo.

B) A "cidade" a que o eu lírico se refere não é especificamente uma cidade definida ou espaço territorial específico: trata-se de uma forma de sociedade que viria possibilitar a efetivação da justiça social e a possibilidade de realização do potencial de cada ser humano.

C) A poesia marcada por fortes preocupações sociais, a busca de realização do indivíduo, o sentimento do mundo que o leva a irmanar-se com o outro, a utopia social e política que leva à "poesia engajada" de que o texto é exemplo.


3) RESPOSTA: Espera-se que o candidato identifique uma das metáforas “verso” e “arabesco”, “rosto” e “espelho”, “cristal”. Em seguida deverá atribuir sentidos como: poesia e realidade, linguagem poética e essência da poesia, fragilidade do homem, do verso, da palavra em face da captação da essência das coisas.

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